Diários do Nosso Amor - 15. Hermione POV


Aquele dia parecia estar a passar rápido demais. Estava ansiosa pela festa e ao mesmo tempo com medo de sermos todos apanhados e enviados para um castigo. Mas havia uma coisa que me deixava ainda mais nervosa, o estranho pressentimento que tinha e que não conseguia identificar. Não sabia se era bom ou mau e por isso estava inquieta desde que acordei naquela manhã de domingo.
O dia passou tranquilo, excepto quando várias pessoas vinham ao mesmo tempo para me desejar um feliz aniversário, afinal segundo a lei eu agora já era maior de idade tanto no mundo mágico como no mundo muggle. Mas entre todas as pessoas apenas senti falta de uma, Ron. Ele nem sequer se aproximou de mim, nunca mais o fez desde o dia em que eu lhe contei que o traí.
Sentia-me mal por isso mas ao mesmo tempo não me arrependo do que fiz. O Draco tem um efeito em mim que nenhum outro alguma vez teve. Eu e o Ron nunca avançamos mais com a nossa relação porque eu no fundo não estava preparada para isso mas com o Draco não consegui sequer pensar nisso, ele transmitia-me uma segurança inexplicável e por isso, mesmo agora, depois de o Ron não querer nem sequer se aproximar de mim, eu não me arrependo do que fiz, não me arrependo dos momentos que passei com o Draco e, principalmente, não me arrependo de ter sido com ele que perdi a minha virgindade.
Mesmo assim, eu não quero mais vê-lo, tenho medo. Eu sei que já o amo, não posso mais negar isso, nem de mim mesma, mas eu não consigo acreditar que ele possa sentir o mesmo, acho que tudo aquilo não passou de um simples desejo para ele. Não que para mim também não o fosse, mas com o passar dos dias eu percebi que todo aquele sofrimento que ele me causava era porque eu já sentia algo por ele e saber que ele me desprezava ou até mesmo odiava, doía imenso. Mas agora espero ter-me liberto dele e com tempo talvez consigo libertar também o meu coração.
- Hermione?! – Ouvi Ginny a chamar despertando-me dos meus devaneios. – Está na hora da festa.
Ginny estava mais animada que eu, não que eu estivesse a detestar a ideia da festa, pelo contrário, mas aquele pressentimento estava a dar comigo em doida. Levantei-me da poltrona e segui com a ruiva para fora do Salão Comum. Tinha ficado combinado todos irem ter à Sala das Necessidades e mais tarde a Ginny iria comigo para lá.
Caminhamos em silêncio pelos corredores mal iluminados e quando já estávamos próximos da sala ouvi alguém chamar-me, alguém que fez o meu coração disparar apenas pelo som da sua voz. Virei-me para trás e lá estava o loiro com aqueles olhos acinzentados que me deixavam fora de mim. Ele foi-se aproximando e quando olhei para o meu lado à procura do apoio da minha melhor amiga vejo que ela me tinha deixado sozinha com Draco naquele corredor deserto e mal iluminado.
- Queria entregar-te isto. – Disse ele bastante perto de mim e esticando um pequeno saco de veludo negro na minha direcção. Eu peguei-o desconfiada. De seguida senti apenas os seus lábios frios tocarem gentilmente o meu rosto, num beijo demorado. – Feliz aniversário. – Sussurrou perto do meu ouvido fazendo-me arrepiar.
Depois virou costas e começou a caminhar, afastando-se cada vez mais, deixando-me com um milhão de pensamentos confusos na cabeça. Eu não sabia o que pensar, ele nunca tinha sido assim tão carinhoso comigo, nunca esperei esta atitude vinda dele. Alguns minutos depois fui finalmente para a minha festa e quando lá cheguei não pude deixar de sorrir e por momentos esqueci o que tinha momentos atrás.
A sala estava linda, pouco iluminada, mas mesmo assim era possível ver toda a imensa sala do lugar onde eu estava. Tinha vários puffs espalhados pelo chão e algumas poltronas e sofás encostados às paredes. Tudo estava em tons de vermelho e dourado. Mas o que mais me surpreendeu foi o pequeno bar numa das pontas da sala, teria de perguntar mais tarde à Ginny como é que ela tinha conseguido infiltrar aquelas bebidas dentro da escola sem que ninguém soubesse.
- Pensei que nunca mais voltavas. – Ouvi Ginny atrás de mim assustando-me. – Então como foi a conversa com ele?
Eu olhei-a e podia ver os seus olhinhos castanhos brilharem de curiosidade, eu não tinha hipótese, teria de lhe contar.
- Ele apenas me veio entregar um pequeno saco de veludo e desejar-me um feliz aniversário.
- E? – Disse ela com um pequeno sorriso nos lábios.
- E o quê Ginny?
- E mais? Tenho a certeza que não foi só isso. Vamos conta-me.
Eu suspirei rendida, ela sabia sempre quando eu lhe escondia algo. Olhei para os lados verificando que ninguém estava por perto e depois voltei a olhar a ruiva à minha frente.
- Ele deu-me um beijo no rosto e foi-se embora. Eu não tive hipótese nem de agradecer o presente.
Vi o sorriso de Ginny alargar-se ainda mais e isso para mim não era bom sinal, parecia até que ela gostava daquela situação. Ignorei-a e segui mais para dentro da sala, observando as outras pessoas. Estavam todos divertidos, dançavam e conversavam, e eu também não pude deixar de me divertir durante algum tempo. Muitos ainda me davam presentes e foi já depois de quase duas horas que eu decidi ver o que tinha dentro daquele pequeno saco de veludo negro que Draco me tinha dado.
Caminhei para uma das poltronas no canto mais afastado da sala e verificando que ninguém me tinha seguido até ali retirei o pequeno saco do bolso e com um simples feitiço voltei a coloca-lo do seu tamanho original. Abri-o e para meu espanto o que tinha lá dentro era um caderno, um caderno que eu suspeitava saber qual era. Abri-o para confirmar as minhas suspeitas e quando o fiz um envelope branco caiu ao chão. “Hermione”, era o que dizia lá na caligrafia elegante do Draco. A curiosidade aumentou e eu abri o envelope retirando de lá uma carta.

Hermione,
Antes de mais quero dizer-te que eu li o teu diário. Foi para isso que mo deste não foi? Não pude deixar de me rir da quantidade de insultos diferentes que tu usas lá para te referires a mim mas claro que prefiro quando me elogias, apesar de serem poucas vezes.
Não vou dizer que sinto muito pelo teu namoro com o Weasley ter terminado, ambos sabemos que se eu dissesse isso estaria a mentir, mas também estaria a mentir se dissesse que fiquei feliz. Não, eu não estou feliz com isso. Não fiquei feliz porque mesmo assim tu não estás comigo, preferiste deixar-me também, e não estou feliz porque tu também não estás feliz. Eu sei o que estás a pensar, que a nossa “relação” era simplesmente sexo mas estás enganada. Pode ter começado assim, isso eu não posso negar, mas depois deixou de ser somente isso.
Sinceramente eu não entendo muito bem o que sinto, apenas sei que não aguento mais estar longe de ti, que me sinto mal quando penso nos anos que te fiz sofrer sem sequer mereceres isso, sem sequer ter uma razão para isso.
Perdoa-me Hermione, mas eu não consigo dizer-te tudo isto pessoalmente, para mim ainda é difícil expressar tudo aquilo que sinto, nem eu próprio consigo entender por completo o que sinto por ti. Apenas sei que não te quero mais magoar e é por isso que talvez seja melhor continuarmos afastados. Só de pensar nessa possibilidade o meu coração dói, mas eu não quero que percas os teus amigos por minha causa. Acho que foi por isso que mentiste ao Weasley não foi? Foi por isso que não lhe contaste que a pessoa com quem o traíste fui eu, para não perderes todos os teus amigos.
Perdoa-me Hermione, por não poder ser a pessoa que tu sempre sonhaste, a pessoa que te irá fazer feliz para sempre. Eu provavelmente vou-te fazer sofrer ainda mais se continuarmos a nos encontrar e é por isso que mais uma vez eu acho que o melhor é continuar tudo como está agora, mesmo que agora pareça horrível, quem sabe daqui a algum tempo olhemos para trás e veremos que esta foi a melhor hipótese para os dois.
Adeus Hermione. Adeus meu amor.

P.S.: Espero que gostes do meu presente. É apenas algo para que possas recordar-me sempre.

Eu não conseguia mais segurar as lágrimas que escorriam agora pelo meu rosto. Olhei de novo para o interior do envelope e foi quando vi algo a brilhar lá dentro. Peguei na pequena corrente e quando a tirei do envelope os meus olhos arregalaram-se. Preso à corrente estava um pingente em forma de dragão com pequenas pedras azuis no lugar dos olhos. O meu coração acelerou e mais lágrimas saiam dos meus olhos. Aquele era sem dúvida o melhor presente do mundo mas ao mesmo tempo era o pior.
Naquele momento eu desejei mais do que nunca ter Draco comigo, desejei com todas as minhas forças que não fosse apenas aquele pingente a unir-nos, a ser a prova de algo maravilho que nós dois tivemos juntos.

(Continua)

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