Passaram-se cinco anos desde que a guerra terminou. No ano seguinte à queda de Voldemort todos os alunos puderam voltar a Hogwarts e terminar os seus estudos. Foi o que eu fiz, mas voltar àquele lugar sem a presença dela era torturante, estar naquele enorme castelo sem poder ouvir os risos dela, sem a poder olhar, sem a poder tocar era doloroso.
Quando terminei os estudos fui juntamente com Daniel, Potter, Weasley e Granger para o Ministério, tornamo-nos Aurors, apesar de agora já não ser tão necessário como era antes. Fazíamos muito mais trabalho de secretária do que trabalho de campo mas ao menos ocupava o meu tempo e os meus pensamentos. O Potter tornou-se até um amigo, ele sabia como eu me sentia, afinal ele tinha perdido a única família que lhe restava, tal como eu, agora estava sozinho, tinha apenas os amigos.
Foi difícil adaptar-me à minha nova vida, muitas coisas me faziam lembrar dela e quando eu via uma mulher de cabelos negros na rua corria até ela mas ficava sempre decepcionado, nunca era ela. Não conseguia estar com mais nenhuma mulher, nenhuma era como ela. O nome dela foi quase como um tabu para nós os cinco, nunca o dizíamos. Ainda não consigo perceber bem porquê mas a Granger diz que isso ajuda a calar a dor e começo a perceber o que ela quer dizer, é mais fácil viver sem o nome dela constantemente presente na minha vida, já basta as imagens dela quando fecho os olhos.
Ainda agora, passados quase seis anos desde o desaparecimento dela (ainda não consigo dizer que ela morreu) continuo a tentar convencer o Potter de que a culpa não foi dele, ela teria feito aquilo por qualquer um que ela gostasse. E continuo a tentar convencer-me a mim mesmo que ela não vai voltar mas não consigo. Talvez fosse mais fácil acabar com este sofrimento se eu admitisse que ela morreu e que nunca mais vai voltar mas eu não consigo.
- Hey Draco que tal irmos hoje a um bar ou assim? – Disse Daniel cortando-me dos meus pensamentos. – Precisas de te divertir um pouco, não podes ficar assim para sempre.
- Não quero.
- Malfoy, ele tem razão. – Potter veio apoiar o Daniel. – Precisas de te distrair. Há quase seis anos que estás nesse estado de apatia, tens de seguir a tua vida em frente.
- Está bem. – Concordei, afinal eles tinham razão. Eu não podia ficar assim para sempre.
Nessa noite fomos até um bar muggle, não era realmente o que eu estava a pensar de uma noite bem passada mas a Granger conseguiu convencer-nos a todos de que aquele bar era porreiro e que agora tinha até música ao vivo. Ao chegarmos lá fomos para uma mesa num canto da sala e pedimos umas bebidas. A música era agradável, uma música suave que me fazia sentir bem, até que a música parou e tudo ficou em silêncio durante alguns segundos.
- E agora, senhoras e senhores, a nossa nova estrela. – Ouvi uma voz do outro lado da sala mas nem sequer desviei o olhar para lá. – Suzane.
Ao ouvir este nome o meu coração parou e olhei na direcção da voz. No pequeno palco estava um piano e em frente a ele, sentada num pequeno banco, estava uma rapariga de longos cabelos negros. A minha vontade era levantar-me e correr até ela mas senti uma mão pousar no meu ombro, olhei para o Potter e ele disse-me baixinho “depois”. Eu percebi que ele e todos os outros naquela mesa estavam a tentar segurar-se para não ir a correr até aquele piano. De repente uma melodia suave começou a ser tocada no piano e ao ouvir a letra da música não consegui segurar as lágrimas, parecia que a música tinha sido escrita para mim, para mostrar o que eu senti no momento em que a Suzane desapareceu.
Couldn't save you from the start
(Não consegui salvar-te desde o início)
Love you so it hurts my soul
(Amar-te tanto faz doer a minha alma)
Can you forgive me for trying again
(Podes perdoar-me por tentar de novo)
Your silence makes me hold my breath
(O teu silêncio faz-me segurar a respiração)
Time has passed you by
(O tempo passou por ti)
Oh, for so long I've tried to shield you from the world
(Oh, há tanto tempo que eu tentei proteger-te do mundo)
Oh, you couldn't face the freedom on your own
(Oh, não podias enfrentar a liberdade sozinho)
Here I am left in silence
(Aqui estou eu, deixada no silêncio)
You gave up the fight
(Tu desististe da luta)
You left me behind
(Tu deixaste-me para trás)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
You'll always be mine
(Tu sempre serás meu)
I know deep inside
(Eu sei disso no fundo)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
I watched the clouds drifting away
(Eu vi as nuvens partirem)
Still the sun can't warm my face
(O sol ainda não pode aquecer o meu rosto)
I know it was destined to go wrong
(Eu sei que estava destinado a correr mal)
You were looking for the great escape
(Tu estavas á procura de uma boa saída)
To chase your demons away
(Para expulsar os teus demónios)
Oh, for so long I've tried to shield you from the world
(Oh, há tanto tempo que eu tentei proteger-te do mundo)
Oh, you couldn't face the freedom on your own
(Oh, não podias enfrentar a liberdade sozinha)
Here I am left in silence
(Aqui estou eu, deixada no silêncio)
You gave up the fight
(Tu desististe da luta)
You left me behind
(Tu deixaste-me para trás)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
You'll always be mine
(Tu sempre serás meu)
I know deep inside
(Eu sei disso no fundo)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
I've been so lost since you've gone
(Eu estou tão perdida desde que foste embora)
Why not me before you?
(Porque não eu antes de ti?)
Why did fate deceive me?
(Porque é que o destino me enganou?)
Everything turned out so wrong
(Tudo se tornou tão errado)
Why did you leave me in silence?
(Porque me deixaste no silêncio?)
You gave up the fight
(Tu desististe da luta)
You left me behind
(Tu deixaste-me para trás)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
You'll always be mine
(Tu sempre serás meu)
I know deep inside
(Eu sei disso no fundo)
All that's done's forgiven
(Todas as coisas perdoadas)
Assim que ela terminou todas as pessoas ali presentes aplaudiram mas na mesa onde eu estava todos ficaram em silêncio a olhar para a mulher que agora se levantava e agradecia ao público. Ao olhar para aqueles olhos azuis não consegui mais ficar quieto e corri até ela.
- Suzane. – Disse ao chegar perto dela e abraçando-a.
Ela não retribuiu o abraço e eu afastei-me um pouco dela, os outros cinco já estavam atrás de mim. Ela olhava para mim confusa e dava pequenos passos para trás. Era impossível ter-me enganado, podiam já ter passado quase seis anos mas eu nunca me iria esquecer daqueles olhos e daquela voz.
- Quem és tu? – Perguntou-me ela confusa. E o meu coração parou.
- Como assim quem sou eu? Sou o Draco. O teu namorado.
- Eu não sei quem tu és. – Ela estava mesmo confusa e quando eu me tentei aproximar novamente ela deu mais alguns passos para trás. – Afasta-te de mim.
- Malfoy, eu acho que ela não se lembra de nada. – Ouvi a Granger falar atrás de mim e olhei para ela.
A Granger tinha razão, a Suzane não se lembrava de nada. Talvez tivesse batido com a cabeça em alguma pedra e perdido a memória mas eu não ia deixar isso ficar assim. Quando voltei a olhar para a frente a Suzane já não estava lá e nenhum de nós a tinha visto sair. Mas eu tinha de a encontrar, precisava dela, precisava que ela voltasse a ser a Suzane que eu amava, a Suzane que eu amo.
(Continua)
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