Esta manhã quando acordei doía-me a cabeça, tinha chorado demasiado. Fui tomar um banho e vesti umas calças de ganga e uma camisola grossa e saí para a sala comum. O meu verdadeiro destino era o lago, aquele lugar costumava acalmar-me.
- Suzane, estás bem? – Perguntou-me Daniel com um olhar preocupado.
- Só preciso de estar sozinha.
Segui o meu caminho até à beira do lago e sentei-me no mesmo sítio de sempre. As lágrimas começavam a querer libertar-se de novo e então fechei os olhos. Fiquei assim por algum tempo, ouvindo apenas o barulho do vento.
- Suzane. – Ouvi a voz de Draco ao meu lado mas não me mexi, não queria olhar para ele, mas ele prosseguiu. – Suzane, eu sei o que estás a pensar mas a culpa não foi minha.
Continuei imóvel, de olhos fechados durante mais uns segundos e depois levantei-me com intenção de ir embora dali. Mas fui impedida pela mão dele que agarrou a minha.
- Não vás. – Ele falava baixo e eu notei o tom sofrido na voz dele o que me partiu o coração mas quando me virei para ele tentava mostrar ódio, um ódio que eu não conseguia mais sentir.
- Não me toques. – Disse ainda de costas e puxando a minha mão da dele. – Nunca mais fales comigo e nunca mais te aproximes de mim. - Agora já não conseguia controlar as lágrimas que escorriam livres pelo meu rosto. – E pega isto, não o quero mais. – Tirei o anel do dedo e atirei-o para os pés dele e depois saí a correr para o campo de Quidditch.
Ele não me seguiu e eu estava aliviada por isso. Quando cheguei ao campo de Quidditch fui até um dos balneários e reparei que alguém se tinha esquecido de uma vassoura lá. Agarrei nela e fui para o exterior voar. O vento a bater-me na cara sabia-me bem, relaxava-me e era isso que eu precisava, não queria que aquele poder horrível que estava aprisionado em mim se libertasse mais uma vez. Depois senti alguém a voar perto de mim e vi o Daniel ao meu lado.
- Não é melhor desceres? – Ele gritava acima do vento.
Eu apenas abanei a cabeça e inclinei a vassoura para o chão e descemos um ao lado do outro. Assim que pisei terra firme desmoronei e ajoelhei-me no chão com um novo ataque de choro. Daniel não dizia nada, apenas me abraçou e deixou-me chorar no seu peito.
- Hoje há uma festa só para Slytherins na Sala das Necessidades. – Disse ele quando eu parei de chorar. – Gostava muito que fosses comigo.
- Desculpa mas não quero. – Eu falava com a voz fraca devido ao choro.
- Por favor. Precisas de te distrair um pouco. - Eu olhei para ele e vi-o sorrir, não pude resistir a sorrir também. – Não podes ficar nesse estado para sempre.
- Está bem. Eu vou contigo.
A seguir ele levantou-se ajudando-me a fazer o mesmo e voltamos para a sala comum. Ficamos lá durante o resto do dia, eu não estava com fome para ir almoçar e ele foi apenas buscar algumas coisas e voltou para à minha beira. Mas ao jantar ele obrigou-me a ir para o Salão Principal comer qualquer coisa. Sentamo-nos na ponta da mesa, longe de Draco. Eu comi muito pouco e quando ele terminou de jantar acompanhou-me até à entrado dos dormitórios femininos e depois foi-se arranjar também.
Tinha de seguir a ideia do Daniel, ele disse para eu seguir em frente, que o Draco não merecia que eu sofresse por ele, afinal tinha-me traído. Eu via que lhe custava imenso dizer aquelas coisas, afinal Draco era o seu melhor amigo. Abri o roupeiro e olhei para as minhas roupas. Optei por uma saia branca que ficava acima do joelho e uma blusa preta, na qual deixei alguns botões abertos mostrando o pingente que Harry me tinha oferecido. Calcei uns sapatos pretos baixos (não me dava muito bem com saltos altos), peguei no estojo de maquilhagem que a Ginny me tinha oferecido e realcei com sombra e lápis preto os olhos e depois com um feitiço coloquei uns cachos bem definidos no meu cabelo solto.
Olhei-me mais uma vez ao espelho, verificando se não faltava mais nada e depois saí para me encontrar com Daniel na sala comum. Quando lá cheguei vi que ele já me esperava e me olhava com um sorriso.
- Estás linda como sempre. – Disse estendendo-me a mão, que eu aceitei com um sorriso.
- Obrigada!
Depois seguimos até à Sala das Necessidades e quando lá entramos eu fiquei mesmo espantada. Tudo estava decorado em tons de verde e prateado, tinha um pequeno palco ao fundo (Daniel disse-me que era para quem quisesse ir cantar) e de ambos os lados balcões com bancos em que serviam as bebidas. Daniel conduziu-me até um desses bares e sentamo-nos lá. Todos olhavam para nós, afinal ninguém sabia que eu e o Draco tínhamos terminado o namoro (só de pensar nisto o meu coração falhava). Daniel pediu duas cervejas amanteigadas e ficamos ali a ouvir a música ambiente e a conversar. Nunca tocamos no assunto Draco Malfoy.
- Então alguém quer ser o primeiro a vir aqui ao palco e cantar? – Ouvi a voz da Parkinson e isso deixou-me completamente mal disposta, com vontade de sair dali a correr.
- Porque não vais? – Perguntou-me Daniel.
- Eu? Estás louco?
- Não. Ouvi dizer que cantas bem. – Disse com um sorriso enorme e começou a puxar-me para o palco.
Eu bem tentava soltar-me e correr para longe mas quando dei conta já tinha sido largada em cima do palco com um microfone na mão. Todos ficaram a olhar para mim e eu senti-me a diminuir de tamanho.
- Bem, se tem mesmo que ser. – Disse derrotada.
Agarrei na varinha e fiz aparecer um suporte para o microfone e um piano juntamente com um banco. Coloquei o microfone no suporte, sentei-me no banco e comecei a tocar. Mais uma vez a música saía sozinha, sem eu precisar de pensar nela.
Broken heart
(Coração partido)
one more time
(mais uma vez)
Pick yourself up
(Apanha-o tu mesmo)
Why even cry?
(Para quê chorar?)
Broken pieces in your hands
(Pedaços quebrados nas
tuas mãos)
Wonder how you'll make it whole
(Quero saber como o
farás inteiro)
Todos olhavam
para mim, muitos deles de boca aberta, e foi então que eu vi num canto da sala
Draco encostado à parede com o olhar fixo em mim. Fixei o olhar nele e
continuei a cantar.
You know
(Tu sabes)
You pray
(Tu oras)
This can't be the way
(Esta não pode ser a
melhor forma)
You cry
(Tu choras)
You say
(Tu dizes)
Something's gotta change
(Alguma coisa está a
mudar)
And mend this porcelain
heart
(E emenda este coração
de porcelana)
Of mine
(Meu)
Of mine
(Meu)
Antes de continuar
desviei o olhar de Draco e olhei para Daniel que me olhava com um sorriso nos
lábios. Então lembrei-me das palavras dele dessa tarde.
Someone said
(Alguém diz)
“A broken heart
("Um coração partido)
would sting at first
(pode ferir uma vez)
then make you stronger
(mas te fará ficar forte")
Wonder why this pain remains
(Queres saber porque é que
esta dor continua)
Were hearts made whole just to break?
(Seriam os corações
feitos inteiros somente para serem partidos?)
Depois olhei
novamente para Draco que ainda me fixava e vi que ele tinha os olhos com
lágrimas, com essa visão o meu coração ficou destroçado.
You know
(Tu sabes)
You pray
(Tu oras)
This can't be the way
(Esta não pode ser a
melhor forma)
You cry
(Tu choras)
You say
(Tu dizes)
Something's gotta change
(Alguma coisa está a
mudar)
And mend this porcelain
heart
(E emenda este coração
de porcelana)
Of mine
(Meu)
Agora olhava
para o tecto, como se pudesse realmente falar com alguém invisível que estava
lá em cima.
Creator
(Criador)
Only You take brokeness
(somente Tu pegas o
destruído)
And create
(E crias)
It into beauty once again
(dentro dele beleza
novamente)
Voltei a olhar
para Draco que agora tinha lágrimas no rosto e eu não consegui evitar que
algumas lágrimas também escorressem pelo meu mas não parei de cantar.
You know
(Tu sabes)
You pray
(Tu oras)
This can't be the way
(Esta não pode ser a
melhor forma)
You cry
(Tu choras)
You say
(Tu dizes)
Something's gotta change
(Alguma coisa está a
mudar)
You know
(Tu sabes)
You pray
(Tu oras)
This can't be the way
(Esta não pode ser a
melhor forma)
You cry
(Tu choras)
You say
(Tu dizes)
Something's gotta change
(Alguma coisa está a
mudar)
And mend this porcelain
heart
(E emenda este coração
de porcelana)
Please mend this
porcelain heart
(Por favor emenda este
coração de porcelana)
Of mine
(Meu)
Of mine
(Meu)
Creator
(Criador)
Mend this porcelain heart
(Emenda este coração de
porcelana)
Terminei de
tocar e corri porta fora. Não conseguia ver o caminho por causa das lágrimas e
por isso tropecei e caí ao chão. Fiquei ali deitada de barriga para baixo a
chorar. Senti alguém se sentar ao meu lado no chão e puxar-me para cima,
encostando-me ao seu peito. Deixei-me ficar ali até parar de chorar e depois
olhei para aqueles olhos azuis à minha frente e simplesmente não conseguia
dizer nada.
- Perdoa-me. –
Ele estava com a voz fraca e então vi que ele ainda chorava. – Eu tentei
afasta-la mas ela estava com a varinha apontada a mim, não podia fazer nada. -
Eu fiquei ali apenas a olhar para ele até que ele falou novamente. – Por favor,
perdoa-me.
Vê-lo assim
despedaçava-me o coração, nunca o tinha visto chorar. Aquele acto de fraqueza
não era normal nele. Eu não conseguia dizer nada, apenas me aproximei dele e o
beijei sentindo o sabor das lágrimas dele misturadas com as minhas. Depois
afastei os meus lábios dos dele e apenas o abracei.
- Eu perdoo-te.
– Disse baixo mas sabendo que ele iria ouvir.
Ele abraçou-me
com mais força contra ele e ficamos ali no chão até que Daniel apareceu.
Disse-nos que o melhor era sairmos do corredor e então decidimos voltar para a
festa, e agora sim, aquilo era uma festa para mim.
Quando a festa
acabou (e já era de manhã) e estávamos a voltar para a sala comum encontramos a
professora McGonagall com cara de poucos amigos. Concluindo, mais um castigo
para a colecção. O azar é que só eu, Draco, Daniel, Parkinson e mais dois
alunos é que apanhamos castigo. Eu, Daniel e Parkinson íamos arrumar os livros
da biblioteca, Draco e os outros dois iam para a sala dos troféus limpar.
- Ainda bem que
estou aqui para te impedir de fazer disparates. – Disse Daniel enquanto me
passava um livro, eu apenas ri.
Daniel ia-me
ajudando enquanto a Parkinson arrumava a parte dela sozinha. Quando eu e Daniel
terminamos ela ainda estava a meio. Claro que eu tinha de tirar proveito da
situação.
- Precisas de
ajuda Parkinson? – Perguntei fingindo sinceridade.
Ela apenas
olhou para mim, parecia que estava a implorar com o olhar para a ajudarmos,
então com um movimento da minha varinha fiz com que todos os livros que ela já
tinha arrumado voltassem para o carrinho.
- Sua… - Ela
olhava-me furiosa e Daniel não parava de rir. – Vais pagar por isto.
- Oh, desculpa
Parkinson. – Disse fingindo estar arrependida. – Enganei-me no feitiço. - Depois
virei costas e Daniel seguiu-me ainda a rir.
- Aquilo foi
brutal. – Dizia Daniel ainda a rir. – A cara dela foi demais.
Seguimos para a
sala comum, eu estava morta de sono. Deixei Daniel a contar ao Draco aquilo que
eu tinha feito e fui-me deitar. Mal cheguei à cama adormeci logo.
(Continua)
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