Não dormi muito bem esta noite. Primeiro porque a imagem de Draco Malfoy a beijar-me não me saía da cabeça, segundo porque assim que consegui adormecer aquelas imagens horríveis, que me tinham feito partir um copo em pedaços com a mão, voltaram a assombrar a minha mente e em terceiro porque a mão ardia-me de novo não me deixando adormecer com facilidade. Foi até com algum alívio que olhei para o relógio em cima da cómoda e vi que já eram horas de me arranjar.
Levantei-me indo até ao wc tomar um banho rápido e vestir o uniforme. Agarrei no saco do material para as aulas e saí do dormitório para a sala comum. Mal virei a esquina para a sala comum vi que Daniel estava na mesma poltrona em que eu estava na manhã anterior. Sorri e fui até ele lentamente.
- Estás à minha espera Daniel? – Perguntei assim que cheguei à parte de trás da poltrona.
- Por acaso até estava! - Ele levantou-se e sorriu-me, um sorriso lindo. – Bom dia Suzy.
- Bom dia Dan! – E sorri mais uma vez. Credo nunca sorri tanto na minha vida. – Hoje não tens fome? Já são quase 8h30.
- Raios, o meu estômago bem que estava aqui a reclamar. – Ele disse abanando a cabeça não acreditando que se tinha esquecido de algo tão óbvio como comer.
Eu ri-me e ele riu-se também. Depois agarrou a minha mão boa e puxou-me para fora da sala comum até ao salão principal. Chegamos à mesa de Slytherin e sentamo-nos num dos lugares vagos a meio da mesa. Quando dei conta já ele estava a encher o meu prato de comida dizendo que tinha de me alimentar bem e que achava que o meu mau humor do dia anterior se devia a não me ter alimentado convenientemente. É claro que eu não pude deixar de dar uma gargalhada, aquele rapaz era impossível.
- Suzane Manson? – Perguntou um rapazinho atrás de mim.
- Sim! – Disse ao virar-me para trás.
- O professor Snape pediu-me para te dizer que não te esqueças que hoje à noite tens de terminar o castigo e a Madame Pomfrey pediu para passares lá antes da primeira aula.
- Oh! Obrigada. – Disse sorrindo para ele e quando ele foi embora virei-me novamente para a mesa e disse frustrada. – Raios, já me tinha esquecido daquele maldito castigo.
- Hum afinal qual foi o teu castigo? – Perguntou um Daniel curioso.
- Limpar os troféus. Fogo, vocês aqui têm troféus que nunca mais acabam. – Disse pegando distraidamente no copo mas de repente ele desapareceu da minha mão. Eu olhei confusa para a mão vazia e depois para Daniel que segurava o meu copo. – Hey!
- Calma Suzy, nada de copos na mão. Não queremos que fiques com as duas mãos magoadas.
- E é suposto eu morrer desidratada? – Perguntei ironicamente.
Eu realmente devo ter feito uma cara bastante cómica porque ele começou a rir e de repente olhou para mim sério. Aquelas mudanças de humor repentinas dele davam comigo em louca e só o conhecia há um dia. Daqui a uma semana tinha de ser internada num manicómio.
- Não palerma. Eu dou-te o sumo mas tu não tocas no copo.
- Ah! Agora sou uma inválida. Brilhante! – Ironia ao poder.
Ele voltou a rir mas de repente parou e ficou a olhar para o outro lado da mesa. Eu desviei o olhar para lá também e vi o Malfoy a tapar a boca tentando não se rir. É sempre bom saber que faço alguém rir.
- Oh, claro, agora virei a palhaça de serviço. Acho que vou entrar para um circo muggle, devo ter sucesso por lá. – E o Malfoy continha ainda mais o riso. - Isso, riam-se todos da minha invalidez. – Mais ironia, o dia estava realmente a começar bem.
Levantei-me para ir à enfermaria ver o que queriam de mim e quando virei costas à mesa ouvi uma gargalhada sonora o que me fez virar a cabeça instantaneamente. Qual não é o meu espanto quando em vez de Daniel estar a rir (que por acaso estava com um olhar bastante estranho para o amigo) vejo o Malfoy completamente dobrado e agarrado à barriga. Já toda a gente olhava para ele, provavelmente nunca o tinham visto a rir assim, o que me fez sentir ainda “melhor”.
- Mas qual foi a piada? – Eu perguntei perplexa sem entender nada.
Ele não respondeu, continuou a rir que nem um louco. Eu já achava que ele devia ter algum problema mental agora tinha ficado completamente provado. Quem devia ser internado num manicómio era ele e não eu.
- Daniel, és capaz de me explicar porque é que o teu amiguinho não pára de se rir? Eu por acaso tenho escrito na testa “riam-se de mim o mais que puderem”?
Desta vez Daniel começou a rir também. Ok, aquilo já era demais. Um a rir-se ainda era suportável, agora dois?
- Ah querem saber, vão dar banho ao cão.
E eles riram ainda mais. Isto realmente não me estava a acontecer. Saí do salão principal o mais rápido que pude e antes de ir à enfermaria passei pelo wc para me ver ao espelho.
- Não há nada de errado com a minha aparência. – Constatei depois de me examinar milimetricamente.
Saí do wc em direcção à enfermaria e mal lá cheguei a enfermeira veio logo ter comigo. Tirou-me a ligadura da mão e observou os cortes por um momento, depois colocou uma nova ligadura e disse para ficar assim até sábado. Até sábado? Ia continuar a ser tratada como uma inválida até sábado? É claro que começava a desconfiar que o Daniel nunca mais na minha vida me ia deixar pegar em copos, a não ser que fossem de plástico.
Fui para a aula de Poções, aquilo prometia. Como é que eu ia fazer uma poção só com uma mão? Nem cortar os ingredientes conseguia. Cheguei à aula um pouco atrasada e por isso tive de bater à porta.
- Entre! – Respondeu-me um professor do outro lado.
Eu abri a porta e entrei devagar procurando pelo professor. Vi-o atrás da mesa dele e dirigi-me até lá antes de procurar um lugar para me sentar.
- Desculpe o atraso professor mas tive de ir à enfermaria mudar a ligadura. – Disse mostrando-lhe a mão pendurada ao peito.
- Oh o que aconteceu Miss…? Como é mesmo o seu nome?
- Suzane Manson. E estou assim porque ontem parti um copo na mão.
- Hum tem de ter mais cuidado. Agora pode ir sentar-se ali entre o Mr Malfoy e o Mr Turner.
Eu olhei para lá não acreditando no que me estava a acontecer mas ao menos eles já não se estavam a rir, o que não era mau. Fui até lá e sentei-me no meio dos dois sem lhes dirigir sequer um olhar. O Daniel ia começar a falar mas foi cortado pelo professor Slughorn que começava agora a aula.
- Ora bem. Hoje vamos apenas identificar estas quatro poções. – Disse apontando para os quatro caldeirões à sua frente que só agora os tinha visto. – E depois quero que escrevam num pergaminho, para entregar no final da aula, a maneira como é possível identificar cada uma das poções e qual o seu efeito. Vamos lá começar. Quem me sabe dizer que poção é esta? – Disse ele apontando para a que estava mais afastada de mim.
Eu levantei instantaneamente o braço bom, aquilo era já a força do hábito, era sempre eu quem respondia a todas as questões na minha antiga escola. Mas não fui a única a levantar o braço, vi que Hermione Granger também o fizera.
- Miss Manson por favor. – Disse o professor olhando para mim.
- Veritaserum. – Disse com toda a certeza.
- Correcto. – Disse ele com um sorriso. – Dez pontos para Slytherin. – Depois apontou para a poção que estava ao lado e voltou a perguntar. – Alguém sabe que poção é esta?
Mais uma vez o meu braço levantou-se mas desta vez o professor perguntou à Granger qual era a poção. Não pude deixar de mostrar o meu ar de desagrado ao ver que ela sabia a resposta.
(Continua)
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