Dark Dreams - Capítulo 1

          "Quem sou eu?" é a pergunta que faço muitas vezes a mim própria, e a resposta chega-me quase instantaneamente, "não sou ninguém", pelo menos para a grande parte do mundo. Antes daquela noite, numa noite de Inverno como tantas outras, eu era uma simples rapariga igual às outras. Mas nessa noite foi-me levada a vida e junto com ela a alegria, a felicidade e o amor.
          Eu era jovem, tinha família, amigos e até um noivo. Já não me lembro do nome de nenhuma dessas pessoas, afinal vai há tanto tempo. Diziam-me que eu era bonita. Longos cabelos negros, olhos azuis, elegante, alta e pele rosada. Agora estou um pouco diferente. A minha pele está pálida, talvez pela falta de sol, e também estou mais magra.
          Desde aquela noite já se passaram mais de cem anos, para ser sincera não me lembro quantos exactamente. Desde essa noite que vagueio sozinha pela cidade à luz da lua, não sei o que procuro, talvez tente encontrar aquele que me tornou neste ser isento de emoções.
          Quero apenas concentrar-me no que me aconteceu e no que me acontece desde aquela noite. Não quero pensar nas pessoas que me rodeiam, elas não são importantes para mim, aliás, nada mais é importante para mim.
          - Elizabeth!
          Sim, esse é o meu nome e alguém me chamava. Voltei-me para trás para ver quem interrompia os meus pensamentos. Lá estava ela, sempre atrás de mim, sempre a tentar saber o que eu andava a fazer. Há já três noites que aquela voz me interrompia.
          - Já te disse que não gosto que andes atrás de mim. - Disse-lhe calmamente.
          - Eu sei! - Ela aproximou-se mais de mim. - Mas sabes que não vou descansar enquanto não descobrir porque nunca te encontrei durante o dia.
          Eu ri-me, ela era demasiado teimosa, mas até simpatizava com ela. Conheci-a numa festa que quis  ir e desde aí ela dizia que eu tinha um segredo e ia descobrir qual era. Não é que eu não tivesse um segredo, mas era um segredo que não era para ser revelado a qualquer pessoa, em especial a uma jornalista do maior jornal da cidade.
          - Não te rias! - Disse-me com uma expressão muito séria. - Ou me dizes a verdade ou eu tenho de investigar. E se leres os meus artigos sabes que eu descubro sempre o que quero saber.
          - Mas eu já te disse. - Tentei parecer também séria. - Tenho a pele sensível ao sol.
         Não era de todo mentira, mas eu sabia que ela não iria acreditar, quer dizer, acho que ninguém acreditaria nisso. E se eu lhe dissesse a verdade, coisa que não poderia fazer, ela também não iria acreditar.
          - Tu sabes que isso não me convence. - Ela sorriu.
          Virou-me as costas e seguiu o seu caminho sem mais palavras. Talvez ela fosse para casa, não sei, e sinceramente não me interessava minimamente. Eu só queria que ela parasse de me seguir, aquilo já começava a ser bastante irritante. Voltei a minha atenção para a lua, agora sim, poderia pensar em paz.

(Continua)

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